Glovo, concorrente do iFood e Uber Eats, encerra operações no BrasilComo cancelar pedido no Rappi
É claro que os termos de uso dos serviços de entrega por aplicativo proíbem o transporte de substâncias ilícitas ou de qualquer produto ilegal. O problema é que, quando pedidos suspeitos são identificados pelos entregadores, nem sempre eles recebem a orientação adequada sobre como agir. Amy Booth, jornalista que escreve sobre a América Latina para veículos como The Guardian e Vice, descreve o caso de Javier Rojas, entregador que atua em Buenos Aires: em julho, ele retirou uma caixa que deveria ter suplementos vitamínicos, mas percebeu que a embalagem estava surrada e cheirava a maconha. Em vez de seguir com a entrega, Rojas parou a moto a cinco quarteirões do endereço de destino e enviou mensagem ao suporte da Glovo perguntando sobre o que fazer. Por telefone, o entregador foi orientado a devolver a caixa à origem, mas ele manifestou medo de sofrer algum tipo de retaliação. Depois, a Glovo o orientou a levar a embalagem ao destino, mas Rojas se recusou novamente. “Entrego isso para a pessoa e encontro dois policiais esperando lá. Sou eu quem carrega a responsabilidade, não a empresa. A empresa lava as suas mãos”, disse a Booth. Depois de mais de uma hora se recusando a fazer a entrega ou a devolver o “produto”, Rojas foi autorizado a jogar a caixa fora. A ASIMM, sindicato que reúne motociclistas, mensageiros e entregadores na Argentina, diz que o caso de Javier Rojas não é isolado. Houve cerca de dez denúncias de situações parecidas desde 2018. O número de casos pode ser muito maior: não são todos os entregadores que têm coragem de formalizar uma denúncia.
Certamente, esse tipo de problema não se limita à Argentina. Mas existe um agravante por lá: sobretudo em Buenos Aires, a maior parte dos entregadores é composta por estrangeiros, como venezuelanos; se forem pegos entregando drogas, eles terão dificuldades para fixar residência no país e, claro, poderão ir para a prisão. Para a ASIMM, plataformas como Rappi e Glovo não são um braço do narcotráfico, mas têm brechas em seus procedimentos que dão abertura para esse tipo de atividade. Procurada, a Glovo informou que o uso de sua plataforma para transporte de substâncias ilícitas é estritamente proibido e que denuncia atividades suspeitas às autoridades locais. A empresa também diz que orienta os entregadores a reportarem pedidos aparentemente ilegais. Enquanto isso, a ASIMM tenta enquadrar plataformas como Rappi e Glovo no registro de provedores de serviços postais da Argentina. Com isso, os entregadores teriam a mesma proteção legal dos trabalhadores dos correios: eles não precisam conhecer o conteúdo das entregas e, portanto, não são responsabilizados por pacotes ilegais. O problema é que o assunto está travado: atualmente, a discussão gira em torno do reconhecimento ou não dos entregadores de aplicativos como funcionários das plataformas.